top of page
Imagem (2)_copia_02.jpg
Imagem (4)_copia_cor_alinhado_baixa.jpg
Imagem (2)_copia_02.jpg
Imagem (4)_copia_cor_alinhado_baixa.jpg

  NOTA SOBRE GERD BORNHEIM 

 

PERCURSO INTELECTUAL E PESSOAL

Gerd Alberto Bornheim nasceu na cidade de Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, no dia 19 de novembro de 1929. É entre Caxias (situada na Serra gaúcha e marcada pela imigração alemã e italiana) e a cidade de Porto alegre, que ele percorre seus referenciais imediatos, emergindo pouco a pouco como um dos principais expoentes da filosofia no Brasil.

Seu percurso na filosofia é marcado por coincidências e eventualidades, já que segundo o autor não houve de sua parte uma escolha deliberada pelo campo filosófico. Ele possuía, com efeito, um interesse geral pelas ciências sociais, o que o levou de forma inusitada à filosofia. Segundo relata em Conversas com filósofos brasileiros, de fato sua intenção inicial era estudar psiquiatria, na medida em que essa formação englobasse ainda um adendo cultural especializado mediante o aprendizado de línguas, literatura etc.

 

Para completar esse processo, Bornheim desejava que seus estudos abarcassem também uma formação sociológica. No entanto, os cursos de sociologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul naquela época não eram regulares, o que o levou a buscar um equivalente dessa formação no curso de filosofia, ao passo que complementava suas leituras pela via de autores como Gilberto Freyre, Oliveira Vianna, Euclides da Cunha, Machado de Assis, Padre Antônio Vieira, Zygmunt Bauman, Ruth Benedict, Margaret Mead, Franz Boas, Malinowski entre outros.

 

Bornheim trilhava então, um pouco ao acaso, essas que seriam as coordenadas decisivas de sua trajetória intelectual e pessoal. Parece que essa base de formação de um descendente de imigrantes alemães radicados no sul do Brasil, aliada à sua aproximação posterior ao Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre (do qual foi outrora diretor), fizeram-no transcender o ranço maior de uma estrutura tomista e neopositivista que então predominava naquela ambiência no período de seus anos iniciais de formação.

Nessa ambiência Gerd Bornheim destacou-se como um dos expoentes das problematizações culturais no Brasil, principalmente a partir de uma visão crítica da estética e filosofia da arte. Ele inicia sua formação filosófica no Rio Grande do Sul prosseguindo-a depois na França, Alemanha e Inglaterra. No Brasil, como ressaltado anteriormente, nosso autor se insere num viés que vem moldando o diálogo com variadas manifestações culturais e artísticas.

Suas reflexões sobre o teatro apresentam uma visão privilegiada das relações entre as expressões culturais e a filosofia. Daí o jogo entre filosofia e teatro constituir um dos aspectos mais singulares de suas interpretações. A base de seus referenciais é bem concreta, e seu diálogo se explicita dentro de uma natureza diretamente ligada aos acontecimentos culturais.

Essa atualidade da pesquisa contemporânea na obra de Gerd Bornheim é salientada sobretudo em suas interpretações das expressões artísticas. A partir de uma natural expansividade e articulação política, Gerd Bornheim frequentava os círculos culturais porto-alegrenses, relacionando-se com artistas plásticos, atores e diretores de teatro, escritores, músicos, políticos, jornalistas e intelectuais em geral.

 

Pode-se dizer que o percurso iniciado no Rio Grande do Sul (em meio a idas e vindas) nutriu seu contato com renomados artistas plásticos como Iberê Camargo e Vasco Prado; com o escritor Caio Fernando Abreu e também com os atores Paulo José, Walmor Chagas, Paulo Cesar Pereio, para citar apenas alguns. Outro aspecto importante desse período foi sua interlocução com o dramaturgo italiano Ruggero Jacobbi.[1] É a partir de Jacobbi, conforme sublinha Bornheim, que ele mergulha na atmosfera do teatro. Pela via do teatro ele vai dialogar também com a produção crítica de Anatol Rosenfeld, Sábato Magaldi e Jacó Guinsburg, que atentam para um importante momento de crescimento do pensamento sobre o teatro no Brasil.

Em sua obra, a linguagem teatral não era um subterfúgio para pensar a realidade contemporânea ou um mero exemplo instrumental para ilustrar suas interpretações. Tratava-se de procurar entender as especificidades das artes cênicas, de dialogar com elas, observá-las em seu estado de expressão sem as camisas de força de teorias preestabelecidas. Nesse caso, o meio teatral assumia uma posição privilegiada, já que sempre houve no teatro um ímpeto, uma espontaneidade que contribuíam para fazer das expressões artísticas algo para além do conformismo ou da comodidade.

É a partir daí que são dados os primeiros passos, e Gerd Bornheim empenha-se em uma crítica contestadora das mazelas da sociedade brasileira e de seu próprio domínio de trabalho: o ensino e a prática da filosofia.

 

 

[1] Ruggero Jacobbi Jacobbi viveu no Brasil de 1946 a 1960, período em que atuou como dramaturgo, diretor e crítico teatral, professor e poeta, principalmente no Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Em Porto Alegre, Jacobbi convida Bornheim a substituí-lo nos cursos sobre teoria do teatro e o papel da interpretação do ator. Entre os datiloescritos de nosso autor encontramos supostamente os resumos de tais cursos devidamente apoiados em noções gerais de estética. Bornheim trata da presença do crítico italiano no ensaio “Sobre o teatro experimental”, que compõe o livro Páginas de filosofia da arte, Rio de Janeiro, UAPÊ, 1998. Em tal ensaio, ele discorre sobre as poéticas do espetáculo condicionado e do espetáculo absoluto, defendidas pelo autor italiano. A primeira, condicionada ao texto; a segunda, aos elementos gerais e o livre manejo do espetáculo. A partir de tais observações, Gerd Bornheim passeia por diferentes momentos do teatro contemporâneo em certa medida atento à “crise positiva” que tomava conta do teatro brasileiro de então. Sobre esse tema, ver o livro organizado por Alessandra Vannucci intitulado Crítica da razão teatral. O teatro no Brasil visto por Ruggero Jacobbi, São Paulo, Ed. Perspectiva, 2005, trabalho que resgata as argutas contribuições de Jacobbi.

bottom of page